No texto anterior, discorri brevemente sobre a filosofia da antifragilidade, conceito introduzido por Nassim Taleb no livro Antifrágil. Basicamente, tudo aquilo que pode se beneficiar do caos é antifrágil – o oposto de frágil, que se esfacela à primeira contrariedade.
Mas como podemos aplicar isso ao mundo dos investimentos?
Primeiramente, um disclaimer. Eu aplico a filosofia antifrágil em praticamente todas as áreas da minha vida, mas ainda não a utilizei no campo dos investimentos, principalmente porque não estou disposto a utilizar meu tempo livre em investimentos ativos. Apesar disso, acho que esse conhecimento pode agregar valor aos nossos processos decisórios enquanto investidores.
Feito o disclaimer, pergunto: qual a relevância de investimentos que se beneficiem do caos?
Desde 1982, aconteceu pelo menos 1 grave crise financeira no mundo a cada 5 anos (quase sempre ocorreram 2 ou mais), e essa frequência vem aumentando, assim como sua intensidade. Com o aumento da interdependência dos big players globais, prevejo que cada nova crise afetará mercados cada vez mais distantes daquele que a originou.
Basicamente, o aumento da complexidade (entropia) torna as coisas cada vez mais caóticas e imprevisíveis.
Para sobreviver a esse cenário, precisamos de uma carteira que, em tempos calmos, tenha um rendimento minimamente adequado, ou que pelo menos não perca para a inflação; em tempos caóticos, idealmente nossa carteira deverá apresentar rendimentos muito superiores.
Uma carteira normal…
Seguindo os princípios da alocação de ativos, uma carteira normal, com filosofia buy and hold, pode ser vista nesta figura:
Assuma que as ações sejam, em sua maioria, de blue caps, ou seja, aquelas mais “seguras” e “confiáveis”, nas quais investimos sem pensar. Com a filosofia buy and hold, estamos, logicamente, interessados na valorização constante dos nossos ativos.
Entretanto, em tempos caóticos, é provável que a alta exposição a esse tipo de ativos resulte em grande desvalorização da carteira, especialmente se não nos preocuparmos com a correlação entre os diferentes setores.
… e uma carteira antifrágil
Precisamos, portanto, de uma estratégia para ganhar com a desvalorização: podemos apostar contra o mercado. A figura a seguir mostra uma carteira mais alinhada com a filosofia antifrágil:
Note que ela é bastante simples, mas sua operação pode ser mais trabalhosa. A “aposta” pode se resumir a operações de venda a descoberto, nas quais você vende um ativo sem possuí-lo, mas com a garantia de recomprá-lo mais tarde. Se, na recompra, o preço estiver menor, você lucra; caso contrário, terá prejuízo.
A aposta pode também incluir especulação em ativos que podem se valorizar a qualquer momento, durante um curto intervalo de tempo. Lembre-se: a ideia é aproveitar-se do caos, do imprevisível! Setores como energia renovável, commodities e pequenas startups podem ser atraentes para uma carteira antifrágil.
O antifrágil não é fácil
Certamente “apostar” contra o mercado pode ser bastante difícil – não há uma fórmula mágica. O investidor mais interessado pode, porém, procurar por empresas que apresentem fragilidades que possam emergir de forma catastrógica em algum momento (Nassim Taleb chama de assimetrias). Por exemplo: se o Brasil fosse uma empresa, sua fragilidade maior seria a porcentagem do orçamento destinada ao pagamento do funcionalismo (ativos e aposentados). Mais cedo ou mais tarde isso refletiria brusca e negativamente no valor das suas “ações”.
Por fim, uma ideia importante do investimento antifrágil é que você esteja suficientemente protegido das perdas – basta ver a distribuição 90/10. Por isso, mesmo que você perca algumas apostas, sua carteira deverá permanecer praticamente intacta. Mas, se acertar uma aposta, seus ganhos poderão ser monstruosos.
o que tu escreve me lembra muito o que o Jonas Fagá fala nos artigos dele, e também no curso.
vale a pena conhecer o site dele (se já não conhece): https://www.trinusglobal.com/home-2019/
Oi, Marcelo! Já tinha visto esse curso, foi um dos únicos materiais de qualidade sobre antifragilidade que encontrei em português.
Abraço!
FH descobri seu blog hoje e achei muito interessante. Estou lendo todas as postagens.
Eu prefiro atingir a antiragilidade nos investimento com diversificação. Faço esse esquema de 90% mais seguros como ações de empresas solidas, fii, sp500, dolar, ouro e TD Selic e ipca.
Outros 10% deixo para apostas como micro caps ou turn arrond que podem estourar a boca do balao. Não invisto esses 10% em rf de banquinhos – nunca irá multiplicar o capital 10x e risco é elevado.
O TD IPCA pode não ser tão seguro em períodos de inflação muito elevada quando o imposto irá comer a rentabilidade.
Tmj
Oi, Canela. Esses 10% à espera de uma erupção são interessantes e bem-vindos. Há pouco tempo tive um bom ganho com essa estratégia com SGPS3.